sábado, 1 de setembro de 2018

Os melhores pianos em Musical Apps

      No vídeo, áudio de nove musical apps gravado pelo musical app AUM (estéreo). A imagem foi gravada diretamente da tela pelo iPad 5, áudio e imagem editados pelo app Perfect Video. O iPad 5 está conectado via MIDI no teclado Roland A30, a música usada foi “Somewhere over the rainbow”, tocada por José Osório de Souza. 



      Comparamos nove musical apps com pianos acústicos de qualidade (os apps não estão em ordem de melhores para piores):

- iGrand Piano Grand Piano 1 (677,2 MB?*) IKMultimedia
- SampleTank Pro Grand Piano 1 (?*) IKMultimedia
- Colossus Concert Grand (14 GB*) Crudebyte 
- Ravenscroft 275 Classic (832,4 MB*) UVItouch
- Korg Module Ivory Mobile Grand (1,99 GB*) Korg
- iSymphonic Keys Sound Set (?*) Crudebyte
- BeatHawk Acoustic Grand (337 MB*) UVItouch
- MKSensation Ac Pno (?*) MIDIculous LLC
- Bismark bs-16i F001 ConcertGrand (100 MB) Bismark

      * Informações disponibilizadas pelos desenvolvedores


      Usar o termo “comparação” para denominar um vídeo com timbres de engenhos diferentes, não é totalmente adequado, para compararmos de forma mais científica, precisariam ser amostras dos mesmos pianos, marcas, modelos e idade. Dessa forma, um vídeo demonstrando vários engenhos, é para que possamos escolher o que mais agrada nosso gosto pessoal. Ainda assim, o que escolhemos pode não ser a melhor amostragem de pianos, apenas um timbre que nos toca mais. Pode nem ser o melhor som de piano para iPad, já que para isso precisaríamos ter a referência de um verdadeiro piano, e não dos timbres que muitos de nós nos acostumamos em hardwares e softwares, assunto da matéria da última edição da Teclas & Afins, “Pra que você quer um bom timbre de piano?”. A realidade é que o que muitos denominam como timbre “top” de piano digital, é o mais maquiado, mais “arredondado”, mais facilitado, mais domado para se tocar. Um timbre real de piano acústico tem muito mais interação de elementos de som que muitos imaginam, ao mesmo tempo que possui uma integridade em toda a extensão e tocado nas várias articulações, quando ouvimos o som acústico puro e real, sem amplificação ou interferências eletrônicas. 
      Penso que podemos avaliar um engenho sob três aspectos: o primeiro é com relação às especificações técnicas oferecidas pelo fabricante ou desenvolvedor. Esse primeiro aspecto é confiável? Sim, números são números, números não mentem, e em se tratando de engenhos baseados em amostragem digital, grandes números representam samples maiores, de mais qualidade, portanto, representando (ou devendo representar) com mais fidelidade o que se pretende samplear.
      Samplear um piano acústico é gravar as 88 notas em várias articulações, que variam entre a dinâmica PP a FF, termos musicais que se referem ao som com baixo volume, PP ou pianíssimo, e volume mais forte, FF ou fortíssimo. Em termos físicos, quanto mais força nas teclas, mais volume de som em todo o mecanismo do instrumento, isso inclui trabalhar com três grandezas físicas nas teclas, velocidade no toque, profundidade desse toque e tempo que se segura a tecla pressionada depois, de forma que as cordas não sejam abafadas e continuem vibrando. Um tecla pressionada até o fim, com profundidade, mas lentamente, produzirá pouco volume, por outro lado, uma tecla pressionada com velocidade mas só até metade, com pouca profundidade, também produzirá pouco volume de som. É preciso causar um impacto duradouro, velocidade, profundidade e por algum tempo, para que haja volume maior, já que o som não vem das teclas, mas das cordas que são atacadas pelos martelos acionados pelas teclas.
      Para se chegar próximo a todas as possibilidades timbrísticas de um piano, faz-se amostras de todas essas instâncias, incluindo samples sem e com o pedal de sustain pressionado. Quando o pedal está pressionado, existe uma ressonância simpatética da corda ou das cordas (já que em alguns casos mais de uma corda é usada para produzir o som de uma unica nota) que sofreram o ataque do martelo, com todo o corpo do piano, principalmente de outras cordas que também vibram por empatia de frequências, mas também de todos os materiais que constróem o mecanismo de um piano acústico. Por isso tantas camadas por teclas acessadas em “velocities” (velocidades) diferentes num piano digital, mas ainda assim, um piano real é bem mais que isso, que software, pois depende também da interação de teclas com os geradores digitais, o hardware dos teclados usados como controladores MIDI.
      O segundo aspecto da avaliação é como o som do engenho soa em gravações e nos PAs. Em vídeos de demonstração, se houver honestidade de quem os gravou, gravando todos os engenhos da mesma maneira, com os mesmos equipamentos, poderemos achar alguma verdade no som, ou pelo menos uma mentira comum, de forma que possamos fazer uma comparação justa. Todavia, muitas vezes, engenhos caros e sofisticados soam pior em gravações e PAs que engenhos mais baratos ou mais econômicos, em termos de recursos, por isso, antes de comprar, é importante, se possível, o músico tocar ele mesmo e ouvir, diretamente dos monitores ligados ao engenho. Fiar-se a vídeos de demonstração pode não ser confiável, quanto mais profissional o vídeo, maior pode ser a mentira sobre a qualidade do engenho demonstrado. 
      O terceiro aspecto sobre como avaliar um engenho é como o engenho funciona na prática pessoal de cada músico, no caso de softwares de pianos, como soam debaixo de nossos dedos em um teclado controlador MIDI, sua tocabilidade, sua faixa de dinâmica e principalmente a interação de som com sensibilidade das teclas que estamos usando. Obviamente outros aspectos podem tendenciar nossa eleição de qual engenho é melhor, que nada têm a ver com a qualidade do som que ele produz, como o design e o painel que ele tem para dar acesso aos seus recursos. Isso, contudo, só interfere em nossa escolha num primeiro momento, mesmo que o design não seja o mais bonito ou o acesso a seus recursos não seja intuitivo, o som de mais qualidade nos fará usar mais um engenho, sobre outros, depois. (Bem, isso é pelo menos o que acontece com músicos mais informados, os mais rasos podem ser influenciados pela imagem que aparece na tela, como acontece com o revestimento externo e móvel em instrumentos musicais em hardware, como órgãos eletrônicos).

Os melhores pianos para iOS?

      Os pianos da IK Multimedia funcionam com facilidade e são bons nos três aspectos, as amostras não são curtas, aparecem bem em vídeos e PAs e respondem bem nas 88 teclas. No SampleTank, o Grand Piano 1 é mencionado como um piano de cauda alemão, o Grand Piano 2 como um piano de cauda japonês e o Grand Piano 3 como um Baby Piano (1/4 de cauda) japonês. Pela sonoridade semelhante, entendemos que o Grand Piano 1, Grand Piano 2 e Baby Grand do pacote Pro do SampleTank são os mesmos pianos Grand Piano 1,  Grand Piano 2 e Baby Grand do app iGrand Piano. Já dentro do SampleTank, o Grand Piano 1 do pack inicial é o mesmo Grand Piano 1 do pack Pro, mas o Grand Piano 2 do pack Pianos tem uma cor diferente do Grand Piano 2 do pack Pro, assim como o Grand Piano 3 do pack Pianos tem uma diferença ainda maior do Baby Grand do pack Pro. O chamado Baby Grand é melhor, com mais detalhes no timbre e samples que soam maiores, mas isso para quem quer e valoriza um timbre diferente daquele padrão de Grand Piano.
      Os pianos acústicos do iSymphonic e do BeatHawk surpreendem, soam muito bem, têm equilíbrio de graves, médios e agudos, aliás, muitos não conhecem esses pianos. No caso do iSymphonic, porque é um aplicativo direcionado a timbres de orquestra sinfônica, propósito que cumpre com excelência, mas poucos adquirem o pacote de piano, e os timbres são ótimos. O BeatHawk tem um sequenciador MIDI eficiente é fácil de usar, já vem com um banco inicial de instrumentos e loops suficientes pra começar a fazer música, principalmente EDM, assim quando adquirimos o pacote de piano, esperamos um timbre mais econômico, contudo, surpreende. O piano tem o DNA do Ravenscroft 275, obviamente, não igual, mas muito bom, já que ambos são da competente desenvolvedora UVItouch.
      O Colossus Concert Grand, o que mais necessita de ajuste na curva de velocity (talvez por ser o que tem mais camadas de velocidade por tecla), e o Korg Module Ivory Mobile Grand, ambos os que ocupam mais memória para suas amostras, possuem o recurso “Sympathetic String Resonance” (ressonância de cordas simpatéticas**) bem acentuado e realista, sendo no Korg Module ajustável pelo “Damper/Layer Level”. Esse recurso nos permite ouvir os harmônicos soando, depois que paramos de tocar e mantemos o pedal de sustain pressionado. O Colossus tem também o recurso “Hammer Thank” sampleado, ruído do pedal de sustain sendo pressionado e retornado ao descanso, com volume ajustável, um luxo exclusivo desse app. O contra desses aplicativos é o custo, o Korg Module mais o Ivory Mobile Grand, fora de promoção, sai +/- R$ 230,00, já só o modelo Concert Grand do Colossus sai R$ 169,90.
      Contudo, o Ravenscroft 275, ocupando menos memória em relação ao Colossus Concert Grand (será que na prática, a qualidade desse modelo do Colossus, é realmente proporcional ao seu gigantesco tamanho?) e ao Ivory Mobile Grand do Korg Module, é o mais prazeroso de se ter debaixo dos dedos, em nossa opinião. Responde bem nas oitenta e oito teclas, em todas as articulações, sons longos com boa ressonância de cordas simpatéticas. Fizemos questão de não customizar nenhum dos timbres, a não ser zerar efeitos de reverb em todos os apps, mas pouco precisamos fazer com a curva de velocity do Ravenscroft 275 para deixá-lo perfeito, e muito se pode fazer com o ajuste “timbre” para dar ao som a cor que desejamos criando praticamente um novo piano.
      Quanto aos MKSensation e o soundfont usado no Bismark bs-16i, estão relacionados para constarem na comparação, mas é óbvio que são timbres de menor qualidade em relação aos outros, amostras curtas que até são funcionais para bater estilos rítmicos, mas que não convencem para notas longas. Mas o MKSensation, com três rimbres instalados, incluindo o Ac Pno, é grátis, já o Bismark bs-16i custa R$ 32,90, e pode receber soundfonts bem usáveis achados para download gratuitamente na internet, melhor que muito timbre de teclado em hardware relativamente caro, assim ambos têm um custo benefício que pode ser interessante.
      Considere o preço de todos os pianos, alguns você terá que comprar um pacote inicial para só depois adquirir o pacote de piano, como o iSymphonic, o Korg Module e o BeatHawk. O Korg, fora de promoção, é caro para a qualidade dos timbres que vêm inicialmente, em nossa opinião. O iSymphonic justifica o preço, apesar de ser focado em timbres sinfônicos, possui instrumentos de altíssimo nível e um bom pack de Pianos. O BeatHawk, em nossa opinião, é o que tem ótimo custo benefício para quem quer timbres e um sequenciador MIDI ágil e competente, recurso que o SampleTank, por exemplo, mesmo com uma boa coleção de timbres gerais, não tem. Outros aplicativos são bons, mas têm poucos timbres, como o Ravenscroft 275 e os modelos do Colossus (poucos e caros en relação aos packs do iGrand Piano e SampleTank Pro), outros, como o MKSensation e o Bismark bs-16i, não são tão fortes, mas são gratuitos ou baratos. Outros ainda, como os iGrand Piano e o SampleTank Pro, têm um bom custo benefício, reunindo qualidade, quantidade e preço.

      ** Como saber se um engenho tem Ressonância de Cordas Simpatéticas: com efeitos reverb, delay e outros desligados, toque algumas notas e segure com os dedos sem usar o pedal de sustain, deixe soar por algum tempo e ouça as frequências de harmônicos que  continuam soando. Depois toque as mesmas notas, com a mesma articulação, mas com o pedal de sustain pressionado e ouça o som que vai continuar soando. Com o pedal de sustain acionado, você deverá ouvir mais sons de harmônicos e por mais tempo, num nível de volume mais baixo, mas dando ao timbre um corpo realista. Alguns engenhos, como teclados em hardware, usam um efeito de reverb especial para criar a ressonância de cordas simpatéticas, como o efeito “Damper Reso” do Yamaha S90ES e outros equipamentos da marca, esse recurso é interessante, mas não é o sampleamento de instâncias reais de notas com pedal de sustain pressionado. Quando sampleado, o recurso adiciona uma camada ao tamanho de memória usado num timbre, o que o torna mais pesado e caro.

José Osório de Souza / Revista Teclas & Afins Agosto de 2018

Nenhum comentário:

Postar um comentário