segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Apps em dispositivos móveis: o set do presente


Um clarinete, o sintetizador analógico Minimoog Model D, o sintetizador digital Korg Prophecy e o engenho Minimod do musical app para iOS Syntronik da IK Multimedia: quatro momentos dos instrumentos musicais

      Quando os primeiros teclados eletrônicos foram usados, muitos se colocaram contra, dizendo ser cópias ruins de instrumentos acústicos. Diga-se de passagem, as primeiras simulações de sopros e cordas de orquestra, feitas por sintetizadores analógicos, se tornaram clássicas, mesmo limitadas, hoje toda boa biblioteca de teclado eletrônico possui simulações desses timbres, que adquiriram identidade própria e respeito. Com musical apps em iPad é semelhante, mas principalmente pela vaidade de alguns preferindo ter set em hardware que todos podem ver, ao invés de programas escondidos dentro de computadores, valorizando músico mais pelo que ele tem do que pelo que ele toca.
      Infelizmente, essa oposição não acontece principalmente por parte de leigos, que não conhecem o assunto, mesmo que sejam leigos que não se assumam como tais, assim como não acontece por parte de excelentes músicos, os quais respeitamos mesmo que não tenham se atualizado sobre o assunto. Essa oposição vem de “falsos” músicos e mesmo de donos de bandas, que trabalham com música, mas parecem não entender muito do assunto, que acham que se não houver set em hardware imenso e da moda, a banda não será valorizada. 
      Digamos não aos hobbistas profissionais, que até são bons músicos, mas que ganham só para alimentar a vaidade de colecionar e exibir sets caros em hardwares, e não sobrevivem de fato do ofício, e nada de errado há em ser hobbista. Que se assumam então como hobbistas e parem de promover referências equivocadas. Digamos não aos fabricantes e “bussiness’s peoples”, que insistem em nos vender monstros de Frankstein, caros e limitados. Digamos não a parecer e sim a ser, músico fazendo boa música com ferramentas boas e acessíveis. 
      Usemos melhor nossa grana, principalmente nessa situação econômica que nosso país atravessa, invistamos em estudo sério e aquisição de instrumentos acústicos, pianos, orquestrais, etc, e se em eletrônicos, em em dedicados mais puros, como clonewheels e sintetizadores. Esses sim, nunca sairão de moda, sempre serão relevantes, e sempre nos ensinarão mais sobre o que instrumentos eletrônicos, digitais e virtuais, sejam em hardware, software ou aplicativos musicais, fazem e querem fazer, imitar bem os originais.
      Mas penso ser só uma questão de tempo, à medida que iPad fique mais acessível e que outros fabricantes, que não só a Apple, entreguem dispositivos mais eficientes para executar aplicativos musicais, os tradicionais fabricantes de instrumentos eletrônicos em hardware sentirão nos seus lucros o peso de concorrentes à altura. Esses tradicionais fabricantes, principalmente os japoneses, que já vivem fases ruins há mais de dez anos, na minha percepção, alguns fecharão as portas, outros diminuirão seus negócios, mas muitos se adequarão. 
      Como foi nos primeiros anos da chegada da música digital, quando os CDs ainda tiveram lucro vendendo reedições de álbuns em vinil e coletâneas da carreira dos grandes artistas, assim será, como já tem sido há algum tempo, com as marcas lançando em apps versões de equipamentos dos anos 1970, 1980 e 1990. Mas o melhor, ao meu ver, é aperfeiçoar e baratear controladores MIDI e interfaces, com variedades de teclas, pads, sliders, botões, switches e conexões, para servirem aos engenhos em musical apps dentro de dispositivos móveis. 
      A verdade é que o software virou espírito livre, se libertou, e pode possuir o corpo que quiser, assim como compartilhar corpos com outros. Um hardware só podia receber software da marca A? Agora engenhos de marcas A, B e C podem habitar o mesmo processador e interagirem, e isso a um custo menor, podendo ser atualizados sempre e estando totalmente ligados à internet e ao mundo virtual. Como na vida humana, ninguém mais tem exclusividade sobre algo, e o que dá originalidade não é o que temos, mas o que fazemos e somos.

Zé Osório

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