segunda-feira, 1 de julho de 2019

Aplicativo musical AUM - Cérebro do set iOS

Aplicativo musical AUM - Cérebro do set iOS

      Aplicativos musicais para iOS são muitos, eficientes e em sua grande maioria baratos, já falamos isso muitas vezes, contudo, com tantas boas possibilidades, a segunda pergunta que um músico faz, depois de saber quais são os aplicativos mais adequados para o seu estilo e trabalho musical, é: como administrar tudo isso? O ideal seria pressionarmos um botão e o iPad estar pronto para tocarmos uma música, ligado ao nosso equipamento externo, com aplicativos chamados, timbres escolhidos e outros ajustes feitos. Isso pode ser feito? Sim, mas com alguns cuidados

      Existem vários aplicativos musicais que podem ser usados como administradores de outros aplicativos, os DAW fazem isso. Além de gravarem MIDI e áudio dos aplicativos externos e de seus sons internos, GarageBand, Cubasis, NanoStudio, Audio Evolution, Beatmaker 3, Korg GadGet etc, podem ser usados para criar e chamar sets virtuais, mas eles são pesados e complexos. Existem também outros “audio & MIDI mixers”, dentre eles, o AudioBus 3, o MIDIflow,  o apeMatrix e o poderoso Camelot, um aplicativo novo e repleto de recursos que permite administração de todo um evento musical, desde seleção de aplicativos internos do iPad, instrumentos em hardware externos, repertório, partituras, até a iluminação de palco para cada música pode ser programada e controlada por ele. Contudo, o AUM Audio Mixer do desenvolvedor Kymatica AB tem vantagens sobre os outros.
      Um roteador de áudio e MIDI com gravador de áudio, a princípio é isso que o aplicativo AUM é. Enquanto outros aplicativos desfilam páginas e páginas de parâmetros para ajustar outros engenhos, o AUM tem poucos parâmetros, o resto você faz nos próprios aplicativos. Por exemplo, você não precisa definir mensagens MIDI como Control Changes 000 (MSB) e 032 (LSB) mais Program Change para selecionar um timbre, basta escolher o timbre no aplicativo e depois salvar os fluxos numa sessão no AUM. Quando a sessão salva for aberta, os aplicativos serão chamados com os timbres e outros ajustes selecionados antes da sessão ser salva, o AUM tira uma “foto” de tudo e registra. Ainda assim alguns ajustes podem ser feitos no próprio AUM para programar um aplicativo externo, como canal MIDI, extensão de notas no teclado (para definir zonas de split e layer) e transposição das notas, além é claro do volume. 
      Todos os aplicativos podem ser utilizados dentro do AUM? Sim, todos os que forem Audio Unit V3 (AUv3) e/ou Inter-App Audio, esses aparecerão na lista de aplicativos habilitados dentro do AUM. Mas mesmo alguns que aparecem são limitados para serem programados pelo AUM, como por exemplo os aplicativos da Korg e da IK Multimedia, isso em relação a tudo que eles fazem sozinhos. É preciso ressaltar que nesses dois casos que citei, o limite não faz deles aplicativos menores, ao contrário, são aplicativos poderosos, mas que nos casos do Korg GadGet e do SampleTank, por suas abrangências de recursos, são mais eficientes se usados sozinhos, ainda que possam ser chamados dentro do AUM. 
      Como Inter-App ou AUv3, os aplicativos podem ser usados pelo AUM, mas se forem AUv3 é melhor, nesse caso várias instâncias de um mesmo aplicativo podem ser chamadas. Isso torna multitimbral aplicativos que quando usados sozinhos não são, sendo multitimbral timbres diferentes podem ser usados simultaneamente, podendo-se assim criar dentro do AUM combinações de instrumentos em camadas ou zonas diferentes no teclado. Veja que isso pode ser feito com aplicativos diferentes, dentro do AUM, mesmo que sejam só Inter-App, mas se forem AUv3 pode-se ter esse recurso com timbres de um mesmo aplicativo. 

Simples, intuitivo, eficiente!

      O aplicativo AUM é fácil de usar, quando aberto tem-se um quadro escuro e limpo, isso é algo que já tranquiliza, não se tem aquelas dezenas de parâmetros numa matriz multicolorida, como ocorre em DAW convencional, que para quem quer começar a usar desanima só de olhar. Pressionando o “+” no quadrado no centro da tela temos três opções: “audio”, “MIDI” e “import”. Em “import” fluxos de sessões salvas podem ser chamados, temos também a opção de chamar a última sessão usada (“Reload last session”, abaixo do “+”). Clicando em “audio” cria-se um fluxo, o elemento principal do AUM, ele é formado por 3 partes básicas. Elas informam quem entra (círculo superior), por onde sai (círculo inferior) e como pode ser processado (círculos centrais). Simples, um aplicativo pode ser usado cujo som será enviado para um lugar onde o usuário possa ouvir e/ou gravar, no meio ficam os efeitos que manipulam o som original. 
      Propriedades MIDI podem ser agregadas, assim nos tracinhos paralelos à esquerda do círculo superior informa-se como queremos interagir com o aplicativo, se por teclado externo (interface), teclado interno na tela do iPad, ou por um aplicativo tipo MIDI AUv3. Esse tipo de aplicativo envia notas MIDI para um outro aplicativo. Quando os tracinhos não aparecem é porque o aplicativo usado terá limites para ser manipulado via mensagens MIDI pelo AUM. Aplicativos tipo AUv3 MIDI são ferramentas muito úteis para o AUM, oferecem a ele o recurso de gravador MIDI (sequencer), recurso que o AUM não tem originalmente. Eles podem ser chamados por meio do fluxo tipo “MIDI”, opção “Audio Unit MIDI Processor”, que confere ao AUM ainda mais independência como DAW. Dependendo do estilo de trabalho musical que se deseja fazer, isso basta para que toda a produção seja executada. 
      Os aplicativos Atom | Piano Roll (Victor Porof), Photon AU (Anthony Saunders) e StepBud (Cem Oclay) são boas ferramentas de gravação MIDI para o AUM. A linha mfx do desenvolvedor Audeonic Apps também tem bons engenhos para manipulação MIDI dentro do AUM, já o AUv3 MIDI RouteMIDI (Brian Howarth) cria pistas MIDI e permite que elas sejam roteadas para sons de hardwares externos. Contudo, o pacote de dez ferramentas do aplicativo Rozeta Sequencer Suite (Bram Bos) oferece manipulação variada de mensagens MIDI, linha de baixo, programação de bateria, arpejador, gravador por “step time” e outros recursos que nos fazem ver ainda mais o AUM como um DAW completo. 
     Aplicativos de efeitos também são bem interessantes no AUM, além da linha profissional AUFX também do desenvolvedor Kymatica AB, faço referência aos AUv3 Effects do desenvolvedor Blamsoft, baratos e eficientes, ZeroReverb, ZeroChorus, DC-9 Overdrive, F-16 Filter, dentre outros. Quando se torna usuário do AUM se transforma também em caçador de AUv3, de fato eles incorporam ao AUM muitas possibilidades criativas, e pelo que a Apple está indicando, em suas próximas versões de iOS e de iPad, “Inter-App Audio” (IAA) serão descontinuados e só poderemos usar AUv3 em hosts.
      Sempre que habilitamos um fluxo para gravação e colocamos o AUM para gravar, um arquivo wave é criado, usando “Mix to Bus” nos círculos inferiores e criando um novo fluxo usando o mesmo bus como “Receive from Bus” no círculo superior, a gravação desse novo fluxo permitirá que os áudios de muitos fluxos sejam gravados juntos. Assim o AUM permite gravação de áudio tanto em pistas separadas por aplicativo como masterializando muitos aplicativos em uma pista estéreo. Arquivos de áudio podem ser chamados nos círculos superiores pela opção “File Player”, assim waves gravadas pelo AUM ou outros engenhos podem ser usadas como playback enquanto se toca aplicativos ao vivo. Esses fluxos de áudio também podem ser regravados e mixados com outros fluxos. 
      Pode-se usar também nos círculos centrais o “Send to Bus” para enviar o som do fluxo, mas desviando de efeitos ou outros processadores que por ventura existirão nos círculos centrais abaixo, assim as possibilidades de roteamento são infinitas. As barrinhas paralelas acima à direita da tela dão acesso ao Menu do AUM, em “Files” temos acesso às sessões de fluxos salvos (“Sessions”) e arquivos de waves (“Recordings”). A seta como um “S” invertido ao lado das barrinhas à direita no topo da página, dá acesso a um mapa roteador do AUM (“MIDI Routing”), uma matriz que permite todo tipo de ligação MIDI com facilidade. Basta clicar nos elementos, em cima estão relacionados os transmissores, MIDI out, as fontes (“sources”), à direita estão os recebedores, MIDI in. 

Fazendo música em tempo real

      Vivemos nos últimos anos uma volta à música eletrônica modular, feita com sintetizadores ligados a outros sintetizadores, reprocessando o som. A prova disso é que equipamentos que nos anos 1990 eram descartados como lixo e que quase nada valiam, hoje valem ouro, quem acha restaura e não vende. Quem não entende ou não gosta (e talvez não goste justamente porque não entende), acha uma música repetitiva e enfadonha, mas não é. 
      Manipular filtros, envelopes e LFOs, redirecionando e novamente modificando o som, é arte sonora pura, o que isso tem a ver com aplicativos musicais em iPad? Tem tudo a ver, nunca tivemos tantos recursos disponíveis para criar música, tudo junto e agora num mesmo hardware, um tablete ou um celular. Com pouco investimento temos Moogs, Sequential Circuits, Oberheims, E-MUs, Synclaviers, Yamahas, Korgs e Casios operando juntos e realizando o som dos nossos sonhos, sem falar de instrumentos acústicos como Grand Pianos e sinfônicos. 
      É aí que o aplicativo AUM entra, criando fluxos, redirecionando-os, num fantástico caldeirão de bruxa onde a magia musical acontece, visite um espaço virtual gringo de tecladistas, que têm valorizado mais essa linguagem que músicos brasileiros, e veja o que eles fazem com um iPad. Mas é também nesse aspecto que o AUM não é um DAW convencional, só oferecendo pistas de gravação, edição e agregação de efeitos, ainda que possa fazer isso é bem. 
      A ideia em um engenho como o aplicativo AUM é facilidade para alterar o som agora e diferente a cada momento, pra isso precisa ser a princípio simples, um quadro limpo, onde o artista coloca as cores devagar. O conceito não é gravar um instrumento, editá-lo e encerrar o trabalho, mas poder manusear o som continuamente, como num laboratório, como módulos em sintetizadores analógicos, só que agora com aplicativos musicais num iPad. 
      Se usarmos o AUM audio mixer, podemos usar também o aplicativo AudioShare (Kymatica), um completa o outro. Esse aplicativo pode exportar o arquivo wave criado no AUM para outros aplicativos, como para um editor de vídeo, para que juntemos o áudio do AUM com uma imagem, por exemplo. Mas o AudioShare também pode funcionar sozinho como um gravador de áudio, podendo inclusive adicionar efeitos de áudio ao som que entra pelo microfone do iPad ou de aplicativos “Inter-App Audio Sources”.
      
Links na AppStore:

Matéria originalmente publicada na edição de junho de 2019 da Revista Virtual Teclas & Afins
José Osório de Souza, 22 de maio de 2019
#músicosqueusamipad 

Nenhum comentário:

Postar um comentário