O que segue não é um curso sobre sintetizador, tem muitos bons profissionais fazendo isso com muita competência, o que vai são só dicas iniciais. Tecladistas mais jovens, se derem-se ao trabalho de ler, talvez achem respostas para muitas perguntas sobre como aprimorar a ferramenta que usam para ser mais eficiente para a música que tocam. Eis minha singela contribuição para a cultura da síntese sonora em instrumentos musicais eletrônicos. Alguns termos usados podem variar de instrumento para instrumento, de marca para marca, mas tente entender os conceitos, mais que só os termos.
Sintetizador
Síntese é uma arquitetura sonora para criar e dar forma ao som. Existem vários tipos de síntese, a analógica que amamos chamar de vintage criava sons a partir de formas de ondas puras manipulando energia. Com a vinda de processadores, ajustes puderam ser registrados, assim surgiu o conceito de “memória”, algo que os analógicos puros não tinham. Sem memória, para um timbre ser criado o anterior tinha que ser desfeito, já que só cabia uma programação de timbre por vez num sintetizador analógico. Com a memória, que armazena informações que criam e modelam o som, surgiram os presets de fábrica e as memórias do usuário, antes eram só diagramas em papel. O Moog Minimoog era um sintetizador analógico, já o Yamaha DX7, apesar de só trabalhar com ondas puras, era digital.
Se existem ondas puras, devem existir ondas “impuras”. Bem, chamamos de ondas não puras amostras de som, samples. Sintetizadores baseados em samples não criam sons a partir de ondas puras, mas de cópias digitais de pedaços de sons de outros instrumentos, sejam acústicos, sejam outros sintetizadores, analógicos ou digitais, ou mesmo baseados também em amostras. Entre o sintetizador analógico e os modernos instrumentos baseados em samples, existem outros tipos de sínteses, como subtrativa, aditiva, por FM, modelagem física etc, mas desde os primeiros analógicos valvulados alguns conceitos, com mais ou menos recursos, estão presentes em instrumentos eletrônicos controlados principalmente por teclas.
É esse o ponto deste texto, esses conceitos estão sendo esquecidos por tecladistas atuais, e a culpa disso não é só o desinteresse no estudo e aprofundamento do conhecimento da ferramenta teclado e sintetizador. Ocorre que atualmente a qualidade dos presets de fábrica é tão boa, a diversidade de timbres entregues é tão grande, e tudo isso, principalmente em aplicativos musicais para iPad, é tão acessível e barato, que poucos se dão ao trabalho de sintetizar o som. Contudo, um conhecimento ainda que pequeno dos conceitos do sentetizador, dos módulos de ajustes, pode tornar engenhos que já são bons ainda mais eficientes para que o músico faça seu trabalho musical dentro de seu estilo e praia.
Ondas (waves) e amostras (samples)
Esses são os elementos basicos de um teclado musical eletrônico, é a primeira escolha que devemos fazer quando programando um som. Se queremos chegar a um timbre de piano o mais adequado é usar samples de piano, pode-se construir um timbre de piano com uma wave de trompete? Até que sim, mas além do trabalho ser maior o resultado não será tão eficiente. Ondas e amostras geralmente estão em parâmetros denominados como tone ou oscilador, as ondas podem ter formatos diferentes que produzirão timbres e instrumentos diferentes, assim nos teclados em geral aparecem termos como quadrada (square), senoidal (sine), dente de serra (sawtooth), triangular (triangle) etc, referindo-se aos formatos de ondas.
Nesse módulo de ajustes, define-se também o “pitch”, a afinação do timbre do instrumento sintetizado, isso inclui desde ajuste da oitava em que o instrumento mais se adequa, até complexos mapas de afinação por nota, no caso de sintetização de sonoridades de instrumentos orientais, por exemplo. Ruídos como sopros e som de ventos e movimento de águas também podem ser gerados a partir de ondas puras, mas que tendo todas as frequências juntas acabam não tendo nenhuma afinação reconhecida, é o chamado ruído branco.
Filtro (filter) e ressonância (resonance)
A forma de onda já dá uma característica sonora ao timbre, mas é com as informações de filtro que aliamos identidade ao timbre. Termos como “cutof” e resonance (e eu estou insistindo em dar os termos em inglês já que o conhecimento dos termos básicos de síntese sonora nessa língua é importante para quem quer programar sintetizador) são usados nesse módulo. Esses parâmetros adicionam e subtraem harmônicos do som, atenuam e incrementam brilho, deixam o timbre mais aberto ou mais fechado. Se o tecladista gospel quer saber como deixar um timbre de strings mais adequado para worship, diminua o filtro, para deixar o som com uma cor mais profunda e menos agressiva e brilhante.
Envelope na amplitude
Nesse módulo aparecem termos como ataque (atack) e decay, também o acrônimo ADSR (ataque, decay, sustain e release), esses parâmetros não mudam a cor do som, mas dão o formato a ele, dizem como se comporta o volume do timbre. Mas isso é bem mais que um volume geral do som, o envelope programa o comportamento do volume (amplitude) a partir do momento que a tecla é acionada, enquanto ela é mantida pressionada e depois que é solta. Para que isso? Para poder simular comportamentos de amplitude de instrumentos diferentes, eles não são os mesmos em instrumentos diferentes. Por exemplo, instrumentos baseados em cordas atingem seu volume máximo quando o martelo do piano ou o diretamente o dedo do instrumentista num violão, ataca a corda. Depois disso a corda vibrará mais e mais devagar até que descanse, fazendo com que o volume se abaixe gradativamente.
O envelope é uma série de parâmetros que definem tempo e nível de volume para vários estágios do som. Um piano tem um tempo inicial zero para atingir um volume, já um timbre “strings slow” tem um tempo maior para atingir seu volume. A corda pode diminuir aos poucos, ou cessar abruptamente quando o pedal de sustain é solto ou a mão é usada para abafar o som no violão. No sintetizador isso é definido com os últimos parâmetros de tempo e volume. Outra dica para o tecladista gospel transformar um timbre de strings em pad para worship, aumente o tempo do ataque e do release, fazendo com que o som atinja seu máximo devagar e continue soando mais um pouco, mesmo depois que as teclas e o pedal de sustain forem soltos, tudo isso pode ser ajustado no envelope de amplitude.
Envelope no filtro
Arquitetura de síntese FM do Yamaha DX7, por exemplo, um engenho que não tinha filtro, usava combinação de waves para criar formas de ondas mais ricas em harmônicos
Mas existem instrumentos, como os sopros de metais, trompetes, trombetas, tuba etc, que podem ter dois comportamentos no formato do som. Notamos que esses instrumentos podem atingir um volume alto logo no início, contudo, havendo um aumento de brilho gradual, no sintetizador ajustamos isso com dois envelopes diferentes para o mesmo timbre, um para a amplitude e outro para o filtro. Sintetizadores com esse recurso conferem ainda mais sofisticação aos timbres criados. Mas sintetizadores mais complexos podem ter vários gráficos de envelopes, um sobre o outros, formatando amplitude, filtro, LFOs etc.
LFO (“Low Frequency Oscillator”)
Som é vibração, velocidade de vibração por tempo é definida por frequência (ciclos de onda por segundo tendo como unidade de medida o hertz, Hz). Quanto menos frequência, mais grave é o som, quanto mais, mais agudo é o som. LFOs são manipuladores de baixa frequência, causam um movimento no som, mas não alteram sua afinação principal. Ajustando o LFO criamos alternações no som, seja manipulando a amplitude, o filtro ou o “pitch”, nesse caso desafinando o som mas ainda mantendo a referência das notas.
As famosas caixas Leslie de falantes rotatórios usadas nos órgãos Hammond e mesmo em guitarras pelos rockeiros dos anos 1960, criavam fisicamente, já que os falantes giravam mecanicamente, efeitos de alternação de som, é isso que que emulamos (ou tentamos) com os LFOs e outros efeitos de modulação nos sintetizadores. Os efeitos produzidos, vibratos, trêmulos etc, podem ser usados para criar a vibração, por exemplo, existente nos sons de instrumentos de sopro de madeiras.
Controladores
Os módulos descritos acima fazem parte do software dos teclados musicais, já os controladores (controllers) são as partes físicas, o hardware, que manipuladas pelos dedos, mãos e pés dos tecladistas, interagem com o software e permitem que o som tenha expressividade, dinâmica. São os controladores que podem humanizar a máquina. Saber usar os controladores é o que diferencia tocar um instrumento musical de digitar num teclado de computador ou apagar e acender um lâmpada por meio de um interruptor.
Controladores não são só sensibilidade e after touch de teclas, sintetizadores analógicos e órgãos tonewheels não tinham sensibilidade de teclas, mas possuiam outros recursos para que o músico expressasse sua emoção e personalidade através deles.
Além das teclas, o pitch bend/modulation, os pedais e muitos botões (switches), deslizantes (sliders e drawbars), knobs, joystick, membranas etc, são controladores disponíveis nos sintetizadores. Nos sintetizadores mais sofisticados o comportamento desses controladores podem ser programados para variar conforme a região do teclado, a pressão que se dá aos pedais etc, através de gráficos e matrizes. Mas para Músicos que usam iPad, a tela do iPad é um controlador rápido com muitas utilidades, possível através da retina sensível ao toque idealizada pela genialidade de Steve Jobs e sua equipe.
Efeitos
Depois de criado e formatado, o som de um sintetizador pode ainda sofrer processamento de efeitos, em teclados modernos os recursos utilizados por guitarristas, como equalizadores, compressores, limitadores, ambiências (eco/reverb/delay), moduladores (chorus, flanger, faser etc), drivers, distorções etc, estão presentes. Uma dica para se conhecer o som verdadeiro de um instrumento produzido por um teclado musical é desligar os efeitos, ouvir o som puro e então fazer ajustes e programações, com o timbre dry, fretado. Só depois que chegamos ao som que queremos devemos ligar os efeitos para também ajusta-los.
Sugestão para aprender recursos básicos de sintetizador:
musical app miniSynth 2 (Yonac)
José Osório de Souza, 29/05/2019
#músicosqueusamipad
Nenhum comentário:
Postar um comentário